terça-feira, 31 de maio de 2011

O que faz uma cidade? - Por Rita Almeida


Juiz de Fora completa hoje 161 anos de história. Nas escolas, salvo alguns raros casos, é comum que se façam trabalhos com o tema, colocando em evidência o brasão, o hino, e tantos outros símbolos oficiais da cidade, que aparecem apenas em 31 de maio e depois desaparecem no decorrer do ano letivo. Contudo, vivemos e experimentamos a cidade de várias maneiras distintas: no caminho para o trabalho, no lazer, nas atividades cotidianas de consumo... Percebemos diferenças temporais nas edificações, percebemos diferenças sociais nas atividades de consumo, percebemos semelhanças nos momentos de lazer. E, nesses casos citados, muitas vezes estamos longe de brasões, hinos e efemérides urbanas.

Meu objetivo não é desconsiderar essa história “oficial”; apenas destacar que ela não é única, e que muitas outras emergem cotidianamente nos usos que se fazem do espaço urbano. Dessa maneira, a cidade é palco de transformações sociais e políticas, e traz consigo todas essas marcas, deixadas por citadinos de épocas distintas. Histórias estas que se sobrepõem e que tecem o emaranhado constitutivo da “história” - no singular – da cidade. Portanto, a história de uma cidade é formada por vários fios diferentes e, dentre eles, aparecem também os fios de brasões, hinos e bandeiras.

Para o professor português João Bonifácio Serra*, “a memória de uma cidade não pode viver do efémero comemoracionista ou do album de fotografias. A memória de uma cidade é um contínuo de gerações, em que cada uma herda e acrescenta à herança o seu próprio sonho, o seu próprio desejo de futuro.” Dentre as diversas gerações que fizeram e fazem parte da história de Juiz de Fora, Ivan Barbosa, Reginaldo Arcuri, Ignacio Delgado, Jorge Sanglard, Beatriz Domingues, Flávio Bitarelo, Flávio Cheker, Marco Aurelio Crocco, José Pimenta, Rafael Pimenta e Marcus Pestana são alguns nomes de militantes de diferentes ideologias de Esquerda que, entre as décadas de 1970 e 1980, imprimiram suas marcas na cidade de Juiz de Fora, através do movimento estudantil, com seus sonhos e desejos de futuro. São esses personagens, sujeitos ativos da história, que tecem junto a tantos outros citadinos, a história da cidade e se tornaram personagens do livro Memórias de Esquerda. Assim, é preciso se considerar a relevância de todas essas histórias e de todos esses fios de memória que se entrelaçam em 161 anos de história de Juiz de Fora.

E que as comemorações sejam feitas: com brasões, hinos, bandeiras, histórias e memórias cotidianas.

Por 
Rita de Cássia Mesquita de Almeida
Historiadora e Mestre em Educação pela UFJF

*SERRA, João B. Manifesto pela cidade imaginária. Disponível em: http://oqueeuandei.blogspot.com/2010/06/manifesto-pela-cidade-imaginaria.html . Acesso em 23 abr. 2011.

domingo, 29 de maio de 2011

Lançamento!

Agradeço muito aos amigos que puderam esta presente ontem no Lançamento do meu livro Memórias de Esquerda: o Movimento Estudantil em Juiz de Fora de 1974 a 1985.
Foi uma noite muito especial para mim! É meu primeiro livro! Fruto de dois anos de pesquisa durante o mestrado!
Ter a presença dos amigos de militância, dos amigos da História, dos alunos, da familia, dos professores, pesquisadores, dos meus entrevistados de pesquisa, dos amigos de trabalho, dos amigos de fé e de pessoas interessadas na história da nossa cidade e que lá pude conhecer, fez da noite ainda mais especial!
Agredeço à FUNALFA pela organização do Corredor Cultural e por me permitir fazer parte desta programação!
Agradeço à Denise e Fernanda, funcionarias da FUNALFA, por toda paciência, alegria e carinho comigo nesta trajetória desde a contemplação na Lei Murilo Mendes até a concretização do projeto neste lançamento!
É uma alegria poder contribuir um pouco com a história e a cultura de Juiz de Fora!
Juiz de Fora: Cidade pela qual me apaixonei e me considero filha!
Lucia, Raquel, Gislene, Cecilia e Fernanda



Meu entrevistado de pesquisa, uma das memórias deste livro: Ignacio Delgado; Valéria Lobo, orientadora e autora do prefácio; Claudia Viscardi, professora.



Valquíria, Linus, Gislene e Tânia


Família: Lacerda, Gislene, Maria José, José Augusto, Gisele e Lucas

Minha linda Maria Júlia e Thaís
Meu entrevistado de pesquisa, uma das memórias deste livro: Flávio Bitarelo

Meu entrevistado de pesquisa, uma das memórias deste livro: José Pimenta

Professora Vanda Arantes

Gislene, Rayla e Daniel

Franciane, Rita, Gislene e Aline

Gisele e José Augusto

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Livro Memórias de Esquerda na impressa de JF

Hoje está no site da UFJF uma matéria sobre o lançamento do livro Memórias de Esquerda, confiram:

http://www.ufjf.br/dircom/?p=44238

Além dele, a Rádio Catedral entrevistou esta autora na ultima quarta feira, no programa Gente Ativa.

http://radiocatedraljf.com.br/site/gente-ativa-juizforana-lanca-livro-sobre-a-ditadura-militar/

A Rádio da Universitária, da FACOM da UFJF também realizou uma matéria sobre o lançamento do livro. Disponibilizaremos aqui posteriormente o audio!

Agradecemos a divulgação feita por estas organizações!

Aguardo a todos no lançamento! É amanhã, as 20 hs, na Biblioteca Municipal!!!!

terça-feira, 24 de maio de 2011

Como adquirir um livro Memórias de Esquerda?


Se você ao visitar este blog se interessou em conhecer melhor a obra e poder lê-la na integra, basta ficar atento às orientações abaixo.

1. Se você é de Juiz de Fora:
  • Você pode comparecer o lançamento no dia 28/05, as 20 hs, na biblioteca Municipal Murilo Mendes;
  • Você pode, a partir do dia 28/05, comparecer à Planet Music, na Av Independência, nº 1522 , centro, JF, e adiquirir seu livro na loja;
  • Você pode enviar email para o endereço memoriasdeesquerda@gmail.com e solicitar informações adicionais e verificar outras possibilidades de entrega.
2. Se você não é de Juiz de Fora / MG

É simples, você deve enviar um email para memoriasdeesquerda@gmail.com . Em seguida você receberá uma resposta automática com todos os passos para pagamento e envio do livro. Em poucos dias o livro estará em suas mãos.

Em breve o livro estará em outras livrarias da cidade e da região.

Será uma alegria tê-lo como leitor!

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Memórias de Esquerda no corredor cultural

A programação completa do Corredor Cultural da FUNALFA acaba de ser divulgada oficialmente!
O lançamento do livro Memórias de Esquerda está na programação!
Dia 28/05, lançamento de 8 livros financiados pela Lei Murilo Mendes em JF farão parte deste momento importante para a cultura de nossa cidade.


Confira a programação completa no link:

http://www.pjf.mg.gov.br/funalfa/corredor_cultural/programa2011.pdf


Parabéns à FUNALFA pela organização deste evento!

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Lançamento do livro Memórias de Esquerda.

Com muita satisfação divulgo o convite o Lançamento do meu livro: Memórias de Esquerda: o Movimento Estudantil em Juiz de Fora de 1974 a 1985 que acontecerá no dia 28/05, sábado, às 20 hs até as 21 hs, na Biblioteca Municipal Murilo Mendes, em Juiz de Fora.
O Lançamento faz parte da programação do Corredor Cultural 2011, organizado pela FUNALFA.



quarta-feira, 11 de maio de 2011

Tecendo histórias, tecendo memórias...

Conforme prometido, apresentarei neste post as memórias que nortearam este trabalho.

            A memória tem configurado uma verdadeira explosão no mundo contemporâneo, indicando para uma “cultura de memória” que, segundo Elizabeth Zelin coexiste e se reforça com a valorização do efêmero, o ritmo rápido, a fragilidade e a transitoriedade dos feitos da vida. A memória possui um papel significativo de fortalecimento da identidade de grupos e comunidades. Devido a isso, a memória tem sido objeto de muitos debates e originado muitos trabalhos nas ciências humanas. Responsável por abrir ao pesquisador possibilidades de análises novas, a memória apresenta características peculiares e que merecem reflexões cuidadosas.

Na maior parte das vezes, lembrar não é reviver, mas refazer, reconstruir, repensar, com imagens e ideias de hoje as experiências do passado. (...) A lembrança é uma imagem construída pelos materiais que estão, agora, à nossa disposição, no conjunto de representações que povoam nossa consciência atual. Por mais nítida que nos pareça a lembrança de um fato antigo, ele não é a mesma imagem que experimentamos na infância, porque nós não somos os mesmos de então e porque nossa percepção alterou-se e, com ela, nossas idéias, nossos juízos de realidade e valor. O simples fato de lembrar o passado, no presente, exclui a identidade entre as imagens de um e do outro, e propõe a sua diferença em termos de ponto de vista. (BOSI: 1994, 55).

           Compreendo que, assim como afirma Bosi não é possível recuperar exatamente as impressões e os sentimentos experimentados à primeira vez, devido ao conjunto de nossas ideias atuais, principalmente sobre a sociedade, que influem no ato de narrar.  Bosi diz ainda que “a narração é uma forma artesanal de comunicação. Ela não visa transmitir o ‘em si’ do acontecido, ela o tece até atingir uma forma boa. Investe sobre o objeto e o transforma”. (BOSI, 1994: 88).
            Neste livro que agora apresento a vocês, a memória não buscou recuperar a totalidade dos fatos vividos neste contexto histórico, mas foi uma opção de analise, vista como fonte histórica que precisa ser problematizada para a partir delas, juntamente com outras fontes, tecer a história deste grupo. A memória traz uma série de novas questões que no livro também são abordadas como a disputa pela memória ao contrapormos a geração de 1968 com a geração da década de 1970, bem como os conflitos de memória e a compreensão não apenas da história em si, mas das intenções, dos sonhos dos sujeitos desta história. Compreendemos não apenas o que aconteceu mais aquilo que acreditavam ter construido, suas perspectivas e convicções.
       Entrevistei para a pesquisa que originou este livro, 11 pessoas que tiveram sua vida marcada pela militancia estudantil e que se tornaram em sua maioria, pessoas publicas e envolvidas na politica atual. O primeiro capitulo do livro dedica-se em parte a apresentar de forma mais detalhada cada uma destas pessoas, suas origens, seus ideais, as tendências às quais foram vinculadas, bem como suas motivações ao ingressarem no Movimento Estudantil e sua trajetória posterior.

São eles:

  • Ivan Barbosa, foi presidente do DCE na gestão de 1974-1985, pertencia a um grupo conhecido genericamente como marxistas. Foi vereador em Juiz de Fora na década de 1970, atualmente militante de PSDB.
  • Reginaldo Arcuri, foi presidente do DCE na gestão de 1975-1976, também pertencente ao grupo Maxista. É professor do Departamento de História da UFJF e foi presidente da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial).
  • José Pimenta, foi presidente do DCE na gestão de 1977 - 1978 e era vinculado na política estudantil ao grupo “Ação e Unidade”, de orientação próxima à AP, e posteriormente ao MR-8, hoje empresário e atuante politicamente em ONGs; 
  • Ignacio Delgado, foi membro do DA do ICHL em 1977 e concorreu em chapas para o DCE da UFJF em 1978. Pertencia à tendência denominada Estratégia, de orientação trotskisa. Atualmente é professor do Departamento de História da UFJF e militante do PT. 
  • Jorge Sanglard, foi membro da tendência Estratégia e foi membro do DA de comunicação e diretor de cultura do DCE. Atualmente atua como jornalista, tem sua vida marcada pelo movimento cultural desde sua entrada na Universidade em 1976.
  • Beatriz Domingues, tinha sua vinculação na política estudantil através da tendência Liberdade e Luta, a LIBELU. Foi membro do DA do ICHL e chegou a disputar o cargo de presidente do DCE em vários anos no final da década de 1970. Atualmente é professora do Departamento de História. 
  • Flávio Bitarelo, foi membro do DA do ICHL e concorreu em chapas para a direção do DCE, não chegando, contudo, a ocupar cargos na entidade. Pertencia à tendência LIBELU. Hoje Flávio Bitarello é professor e participa do Movimento Sindical, atuando como diretor do sindicato dos professores de Juiz de Fora, no qual mantém sua militância política.
  • Flávio Cheker, ex-militante da Estratégia, foi presidente do DCE da UFJF em 1979. Atualmente é vereador na cidade de Juiz de Fora pelo Partido dos Trabalhadores. 
  • Marco Aurelio Crocco pertencia à tendência Estratégia. Em 1982, foi eleito presidente do DCE da UFJF. Atualmente é professor da Faculdade de Economia da UFMG .
  • Rafael Pimenta era militante do MR-8, foi presidente do DA de Engenharia e, posteriormente, do DCE da UFJF, de maio de 1983 a setembro de 1984. Hoje advogado e militante do atual PCB.   
  • Marcus Pestana, foi presidente do DCE da UFJF de 1980 a 1982, na época inicialmente vinculado ao PC do B. Hoje economista e Deputado Federal eleito por Minas Gerais, ex-secretário de Saúde do Governo de Minas Gerais, membro do PSDB. 
Cada um deles constituiu-se um dos fios de memória que me ajudaram a tecer esta história narrada no livro Memórias de Esquerda.

Agradeço a cada um de vocês, meus entrevistados, por dividirem um pouco de si para esta pesquisa ao partilharem sua memória, sonhos, ideais, perspectivas, entre tantas outras coisas.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Fios de memória

Manifestação de rua do Movimento Estudantil
Juiz de Fora
Tribuna de Minas - 1982
Arquivo DCE - UFJF
A história que apresento neste livro é tecida a partir de vários fios: documentos escritos, jornais, fotografias e memórias. Assim gostaria de apresentar neste post os fios de memória que nortearam este trabalho. Cada entrevistado torna-se, nesta pesquisa, um fio de memória e parte essencial para o trabalho de tecer histórias e memórias.

Assim, selecionei para este trabalho, ex-universitários que tiveram participação no movimento estudantil na cidade de Juiz de Fora/MG, no período de 1974 a 1985. Busquei que as três tendências estudantis de esquerda atuantes no período estivessem presentes (Estratégia, LIBELU e Ação e Unidade que congreva varios grupos), assim como expoentes dos dez anos em que esta pesquisa está inserida fossem representados. Dessa forma, atendendo a estes quesitos, selecionamos os sujeitos que desempenharam uma atuação mais expressiva dentro de suas tendências e dentro do ME como um todo, mesmo que estes não tenham chegado à diretoria do DCE.

Assim, os fios de memória são sujeitos que foram selecionados com o objetivo de contemplar os quesitos supracitados. Foram realizadas onze entrevistas para esta pesquisa, abrangendo os dez anos pesquisados. Contudo, muitos militantes foram contemporâneos no ME, o que nos permite confrontar as memórias ao construir esta história. A agulha que tece os fios de memória que a constrói é o trabalho de historiador, que me permite buscar, nestes fragmentos de memória, elementos essenciais para esta pesquisa.

É fato que muitos outros fios fazem parte de todo este processo e poderiam contribuir para este tecer de uma forma ainda mais completa. No entanto, a seleção foi inevitável, devido aos limites da pesquisa. Sinalizo que muito ainda se poderá fazer com estes fios que usei, além do emprego de novos fios, para compor esta história do Movimento Estudantil juizforano.

No próximo post deste blog apresento quem são estes meus entrevistados!!! Confiram!!!


sábado, 7 de maio de 2011

Os capitulos do livro Memórias de Esquerda

Tribuna de Minas, agosto/1982
Greve Estudantil
Arquivo DCE UFJF

O livro Memórias de Esquerda: O Movimento Estudantil em Juiz de Fora de 1974 a 1985 é dividido em três capitulos. O primeiro capítulo traz uma reflexão sobre o sentido da memória como fonte histórica, bem como apresenta os sujeitos entrevistados na pesquisa que deu origem ao livro. Além disto, o capítulo inicial aborda o Movimento Estudantil brasileiro e juizforano atuante nas décadas de 1970 e 1980. De certa forma, este capitulo apresenta e situa historicamente o objeto da pesquisa.
O segundo capítulo procura traçar um panorama das principais tendências estudantis que permearam o ME brasileiro, buscando suas origens. Especial atenção é dedicada às tendências atuantes dentro o movimento estudantil juizforano, foco desta pesquisa, identificando suas origens e sua trajetória ao longo do período estudado. O objetivo aqui é situar ideologicamente o Movimento Estudantil de Juiz de Fora e suas correntes internas.
O terceiro capítulo, por sua vez, apresenta as memórias do Movimento Estudantil de Juiz de Fora no contexto de transição democrática (1974 – 1985). Aborda-se a dinâmica do ME em JF, destacando as disputas eleitorais pela direção do DCE da UFJF e as gestões que se seguiram de 1974 a 1985. Apresenta-se, ainda, a ação dos estudantes na UFJF, destacando suas reivindicações, manifestações e lutas bem como o contexto da abertura ao pluripartidarismo e a relação dos militantes do ME na composição desses partidos de acordo com o caminho seguido por cada grupo. Apresenta também uma abordagem sobre o movimento cultural e sua ligação com o movimento estudantil, finalizando com uma analise dos estudantes atuando em outros campos da cidade. O objetivo deste capitulo é, pois, compreender a ação política dos estudantes de Juiz de Fora, buscando, ainda que de forma apenas suplementar, apresentar suas outras interfaces, para além da política.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Mais de 200 acessos!

Caros leitores,

Que alegria saber que em duas semanas de blog já alcançamos 200 acessos! Agradeço o carinho dos amigos! Agradeço o carinho daqueles que ainda não conheço mas que se interessam por esta história!

Está aberto o canal para o dialogo! Vamos aproveitar este espaço!

Lançamento à vista! Final do mês!!!!!

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Email Memórias de Esquerda

Prezad@s;

Disponibilizo o email memoriasdeesquerda@gmail.com para ser mais um canal de dialogo aberto entre os interessandos pela história do Movimento Estudantil, a história de Juiz de Fora e a história da Ditadura Militar no Brasil.

Quaisquer informações sobre o livro também podem ser encaminhadas a este email.

Livro já na gráfica, em breve acessivel à tod@s vocês!

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Apresentação do livro Memórias de Esquerda pela Profª Valéria Marques Lobo, UFJF.

Caros leitores,

Abaixo, seguem alguns trechos do Prefácio do livro Memórias de Esquerda, escrito pela Profª Drª Valéria Marques Lobo, da UFJF.  


Manifestação no Campus da UFJF.
Foto Tribuna de Minas, 1984.
Arquivo do DCE da UFJF


A historiografia brasileira tem se ressentido da escassez de publicações relacionadas aos períodos mais recentes de nossa história. Seja pelo temor de não lograr o adequado distanciamento em relação ao objeto, seja pela dificuldade de encontrar fontes criteriosamente organizadas, os historiadores têm privilegiado o estudo de tempos mais remotos e deixado quase exclusivamente a cargo dos sociólogos, cientistas políticos e economistas a prerrogativa de desvendar nossa história recente. Além das dificuldades apontadas, ao se debruçar sobre a história de um período recente, o historiador do tempo presente se expõe não apenas à crítica de seus pares nos meios acadêmicos, tal como os demais, mas se submete mesmo ao escrutínio dos sujeitos da história, elevando-se assim os custos e os riscos da empreitada.
Gislene Lacerda aceitou os riscos e encarou corajosamente os desafios de escrever sobre a experiência de pessoas que povoaram a história que relata e que continuam aí, dando sequência às suas próprias histórias. E o fez com propriedade, apoiando-se inclusive nas memórias dos sujeitos dessa história.
(...) 
Não se trata, todavia, apenas de uma narrativa acerca da ação dos estudantes de Juiz de Fora no período situado entre os governos do Gal. Geisel e a Campanha das Diretas. Ao se debruçar sobre a trajetória desses estudantes, a autora buscou compreender em que medida a militância estudantil da cidade se inseria num processo mais amplo e quais eram as suas peculiaridades, dialogando com as poucas obras referentes ao movimento estudantil do período abordado. Ao contrastar o conteúdo dos trabalhos referentes ao movimento estudantil do período anterior com suas fontes,  a autora buscou identificar, além dos traços de continuidade que ligam a ação estudantil do ocaso do regime militar com a Geração de 68, as rupturas e mudanças que o seu sujeito experimentou. Mais do que isso, Gislene procurou, ainda, situar as diversas correntes do movimento estudantil de Juiz de Fora no espectro das esquerdas brasileiras, a fim de compreender as convergências e as disputas que se verificam no período analisado. Por fim, buscou de forma bastante original estabelecer os nexos entre as manifestações culturais e políticas que faziam parte do universo estudantil no ocaso do regime militar. O que se verifica é, pois, uma composição primorosa do objeto de estudo.   
(...)
Essas são algumas das questões trabalhadas de forma cuidadosa e criativa por Gislene. Por tudo isso esse livro vem preencher de forma muito pertinente uma importante lacuna não apenas nos estudos regionais, mas também na historiografia nacional, o que faz da obra leitura obrigatória para todos aqueles que se interessam pela história recente da sociedade brasileira.