quarta-feira, 11 de maio de 2011

Tecendo histórias, tecendo memórias...

Conforme prometido, apresentarei neste post as memórias que nortearam este trabalho.

            A memória tem configurado uma verdadeira explosão no mundo contemporâneo, indicando para uma “cultura de memória” que, segundo Elizabeth Zelin coexiste e se reforça com a valorização do efêmero, o ritmo rápido, a fragilidade e a transitoriedade dos feitos da vida. A memória possui um papel significativo de fortalecimento da identidade de grupos e comunidades. Devido a isso, a memória tem sido objeto de muitos debates e originado muitos trabalhos nas ciências humanas. Responsável por abrir ao pesquisador possibilidades de análises novas, a memória apresenta características peculiares e que merecem reflexões cuidadosas.

Na maior parte das vezes, lembrar não é reviver, mas refazer, reconstruir, repensar, com imagens e ideias de hoje as experiências do passado. (...) A lembrança é uma imagem construída pelos materiais que estão, agora, à nossa disposição, no conjunto de representações que povoam nossa consciência atual. Por mais nítida que nos pareça a lembrança de um fato antigo, ele não é a mesma imagem que experimentamos na infância, porque nós não somos os mesmos de então e porque nossa percepção alterou-se e, com ela, nossas idéias, nossos juízos de realidade e valor. O simples fato de lembrar o passado, no presente, exclui a identidade entre as imagens de um e do outro, e propõe a sua diferença em termos de ponto de vista. (BOSI: 1994, 55).

           Compreendo que, assim como afirma Bosi não é possível recuperar exatamente as impressões e os sentimentos experimentados à primeira vez, devido ao conjunto de nossas ideias atuais, principalmente sobre a sociedade, que influem no ato de narrar.  Bosi diz ainda que “a narração é uma forma artesanal de comunicação. Ela não visa transmitir o ‘em si’ do acontecido, ela o tece até atingir uma forma boa. Investe sobre o objeto e o transforma”. (BOSI, 1994: 88).
            Neste livro que agora apresento a vocês, a memória não buscou recuperar a totalidade dos fatos vividos neste contexto histórico, mas foi uma opção de analise, vista como fonte histórica que precisa ser problematizada para a partir delas, juntamente com outras fontes, tecer a história deste grupo. A memória traz uma série de novas questões que no livro também são abordadas como a disputa pela memória ao contrapormos a geração de 1968 com a geração da década de 1970, bem como os conflitos de memória e a compreensão não apenas da história em si, mas das intenções, dos sonhos dos sujeitos desta história. Compreendemos não apenas o que aconteceu mais aquilo que acreditavam ter construido, suas perspectivas e convicções.
       Entrevistei para a pesquisa que originou este livro, 11 pessoas que tiveram sua vida marcada pela militancia estudantil e que se tornaram em sua maioria, pessoas publicas e envolvidas na politica atual. O primeiro capitulo do livro dedica-se em parte a apresentar de forma mais detalhada cada uma destas pessoas, suas origens, seus ideais, as tendências às quais foram vinculadas, bem como suas motivações ao ingressarem no Movimento Estudantil e sua trajetória posterior.

São eles:

  • Ivan Barbosa, foi presidente do DCE na gestão de 1974-1985, pertencia a um grupo conhecido genericamente como marxistas. Foi vereador em Juiz de Fora na década de 1970, atualmente militante de PSDB.
  • Reginaldo Arcuri, foi presidente do DCE na gestão de 1975-1976, também pertencente ao grupo Maxista. É professor do Departamento de História da UFJF e foi presidente da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial).
  • José Pimenta, foi presidente do DCE na gestão de 1977 - 1978 e era vinculado na política estudantil ao grupo “Ação e Unidade”, de orientação próxima à AP, e posteriormente ao MR-8, hoje empresário e atuante politicamente em ONGs; 
  • Ignacio Delgado, foi membro do DA do ICHL em 1977 e concorreu em chapas para o DCE da UFJF em 1978. Pertencia à tendência denominada Estratégia, de orientação trotskisa. Atualmente é professor do Departamento de História da UFJF e militante do PT. 
  • Jorge Sanglard, foi membro da tendência Estratégia e foi membro do DA de comunicação e diretor de cultura do DCE. Atualmente atua como jornalista, tem sua vida marcada pelo movimento cultural desde sua entrada na Universidade em 1976.
  • Beatriz Domingues, tinha sua vinculação na política estudantil através da tendência Liberdade e Luta, a LIBELU. Foi membro do DA do ICHL e chegou a disputar o cargo de presidente do DCE em vários anos no final da década de 1970. Atualmente é professora do Departamento de História. 
  • Flávio Bitarelo, foi membro do DA do ICHL e concorreu em chapas para a direção do DCE, não chegando, contudo, a ocupar cargos na entidade. Pertencia à tendência LIBELU. Hoje Flávio Bitarello é professor e participa do Movimento Sindical, atuando como diretor do sindicato dos professores de Juiz de Fora, no qual mantém sua militância política.
  • Flávio Cheker, ex-militante da Estratégia, foi presidente do DCE da UFJF em 1979. Atualmente é vereador na cidade de Juiz de Fora pelo Partido dos Trabalhadores. 
  • Marco Aurelio Crocco pertencia à tendência Estratégia. Em 1982, foi eleito presidente do DCE da UFJF. Atualmente é professor da Faculdade de Economia da UFMG .
  • Rafael Pimenta era militante do MR-8, foi presidente do DA de Engenharia e, posteriormente, do DCE da UFJF, de maio de 1983 a setembro de 1984. Hoje advogado e militante do atual PCB.   
  • Marcus Pestana, foi presidente do DCE da UFJF de 1980 a 1982, na época inicialmente vinculado ao PC do B. Hoje economista e Deputado Federal eleito por Minas Gerais, ex-secretário de Saúde do Governo de Minas Gerais, membro do PSDB. 
Cada um deles constituiu-se um dos fios de memória que me ajudaram a tecer esta história narrada no livro Memórias de Esquerda.

Agradeço a cada um de vocês, meus entrevistados, por dividirem um pouco de si para esta pesquisa ao partilharem sua memória, sonhos, ideais, perspectivas, entre tantas outras coisas.

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