segunda-feira, 2 de maio de 2011

Apresentação do livro Memórias de Esquerda pela Profª Valéria Marques Lobo, UFJF.

Caros leitores,

Abaixo, seguem alguns trechos do Prefácio do livro Memórias de Esquerda, escrito pela Profª Drª Valéria Marques Lobo, da UFJF.  


Manifestação no Campus da UFJF.
Foto Tribuna de Minas, 1984.
Arquivo do DCE da UFJF


A historiografia brasileira tem se ressentido da escassez de publicações relacionadas aos períodos mais recentes de nossa história. Seja pelo temor de não lograr o adequado distanciamento em relação ao objeto, seja pela dificuldade de encontrar fontes criteriosamente organizadas, os historiadores têm privilegiado o estudo de tempos mais remotos e deixado quase exclusivamente a cargo dos sociólogos, cientistas políticos e economistas a prerrogativa de desvendar nossa história recente. Além das dificuldades apontadas, ao se debruçar sobre a história de um período recente, o historiador do tempo presente se expõe não apenas à crítica de seus pares nos meios acadêmicos, tal como os demais, mas se submete mesmo ao escrutínio dos sujeitos da história, elevando-se assim os custos e os riscos da empreitada.
Gislene Lacerda aceitou os riscos e encarou corajosamente os desafios de escrever sobre a experiência de pessoas que povoaram a história que relata e que continuam aí, dando sequência às suas próprias histórias. E o fez com propriedade, apoiando-se inclusive nas memórias dos sujeitos dessa história.
(...) 
Não se trata, todavia, apenas de uma narrativa acerca da ação dos estudantes de Juiz de Fora no período situado entre os governos do Gal. Geisel e a Campanha das Diretas. Ao se debruçar sobre a trajetória desses estudantes, a autora buscou compreender em que medida a militância estudantil da cidade se inseria num processo mais amplo e quais eram as suas peculiaridades, dialogando com as poucas obras referentes ao movimento estudantil do período abordado. Ao contrastar o conteúdo dos trabalhos referentes ao movimento estudantil do período anterior com suas fontes,  a autora buscou identificar, além dos traços de continuidade que ligam a ação estudantil do ocaso do regime militar com a Geração de 68, as rupturas e mudanças que o seu sujeito experimentou. Mais do que isso, Gislene procurou, ainda, situar as diversas correntes do movimento estudantil de Juiz de Fora no espectro das esquerdas brasileiras, a fim de compreender as convergências e as disputas que se verificam no período analisado. Por fim, buscou de forma bastante original estabelecer os nexos entre as manifestações culturais e políticas que faziam parte do universo estudantil no ocaso do regime militar. O que se verifica é, pois, uma composição primorosa do objeto de estudo.   
(...)
Essas são algumas das questões trabalhadas de forma cuidadosa e criativa por Gislene. Por tudo isso esse livro vem preencher de forma muito pertinente uma importante lacuna não apenas nos estudos regionais, mas também na historiografia nacional, o que faz da obra leitura obrigatória para todos aqueles que se interessam pela história recente da sociedade brasileira.

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