terça-feira, 25 de outubro de 2011

Homenagem a Ivan Barbosa

Recebi a triste noticia que na ultima sexta-feira, dia 21/10/2011, faleceu Ivan Barbosa, um grande homem da política juizforana e que fez história nesta cidade. Conheci Ivan por ocasião do desenvolvimento da minha dissertação de mestrado em História na UFJF. Tive a oportunidade de entrevista-lo durante pouco mais de uma hora no dia 03 de julho de 2009, um dos últimos registros existentes do próprio Ivan. Nesta ocasião, Ivan compartilhou comigo de suas memórias sobre sua trajetória política iniciada no Movimento Estudantil em tempos de Ditadura Militar no Brasil e me apresentou seu arquivo pessoal, com documentos que por ele eram guardados como verdadeiras relíquias, marcos de sua própria história de militância política e com relevância para a história da democracia em nosso país. Apesar da presidência do DCE da UFJF em 1974 e de seu mandato como vereador em 1976, Ivan sempre se mostrou um homem dos bastidores, e por sua visão política conquistou o respeito de diversos homens do cenário político desde a década de 1970 até os dias atuais.
Ivan é dos sujeitos que construiu história. Um pouco dela está presente no livro Memórias de Esquerda: o movimento estudantil em Juiz de Fora de 1974 a 1985, de minha autoria. Por isto, sinto-me no dever de escrever estas linhas sobre Ivan, relembrando o momento inicial de sua vida política. Como uma pequena homenagem à ele, busco fragmentos de sua história para lembrar um homem ao qual devemos todo reconhecimento pelo compromisso político com o qual sempre defendeu a democracia em nosso país.

O inicio de uma vida de militância

Nascido em 1949 na cidade de Juiz de Fora, Ivan Barbosa graduou-se em Direito na UFJF sem ter até então se envolvido com a política. Porém, após uma viagem ao exterior tomou ciência da realidade brasileira dos anos 70 e, ao regressar ao país, retornou também à vida universitária, para cursar História, na mesma instituição, em 1974, momento no qual ingressou na política estudantil.
Eu me formei em Direito em 1971. Quando eu fazia Direito eu só queria saber de boate, estava em outro esquema, depois fiquei dois anos fora viajando, fui pra Europa, foi lá na Europa que eu descobri que a barra tava pesada aqui. Eu não tinha noção do que estava acontecendo no Brasil. Depois viajei pela América Latina. Me formei com 22 anos na época... não sabia... sabia mas não tinha noção da gravidade. Aí voltei e fui estudar história e me chamaram pra entrar pro DCE e eu entrei pro DCE. (Ivan Barbosa, entrevista).

Ivan Barbosa é visto por seus contemporâneos sempre como o precursor de uma nova trajetória do Movimento Estudantil na cidade, iniciada com a gestão da qual foi presidente do DCE-UFJF em 1974. Este marco, percebido em muitas falas dos ex-militantes entrevistados, chama a atenção, pois Ivan Barbosa era vinculado, nesta época, a um grupo denominado genericamente por Marxistas e que já estava na direção do DCE desde anos anteriores. Dessa forma, a entrada de Ivan Barbosa na presidência do DCE não simboliza uma mudança radical na direção da entidade, já que o mesmo permaneceu com pessoas ligadas ao grupo já no poder antes de sua vitória. Contudo, a gestão de Ivan Barbosa foi marcada por ações mais visíveis do ME na cidade, como a aquisição, pelo DCE, de uma gráfica, que lhes proporcionou facilidade na divulgação de materiais com suas ideias e cultura; o início do Som Aberto, ligado a um movimento cultural que envolveu também a divulgação de poesias e outros eventos musicais; a realização dos jogos universitários; o retorno dos Diretórios Acadêmicos e a extinção dos Diretórios Setoriais, entre outros fatos.
Para Ivan Barbosa, a gráfica também foi uma herança de Zé Toninho, que a complementou e colocou em funcionamento.
O Zé Toninho, meu antecessor, comprou a gráfica, mas eu comprei a impressora, aí completou o negócio, nós tínhamos uma gráfica da melhor qualidade, papel à vontade, então nós rodávamos o que a gente queria: jornal, panfleto e convocação, e o negócio começou a dar certo. (Ivan Barbosa, entrevista de pesquisa).

Mas, para ele, o essencial de sua gestão, foi a criação dos DA’s em substituição aos DS’s existentes, já evidenciados em sua campanha, além do funcionamento da gráfica.
A reforma Universitária tinha acabado com os Diretórios Acadêmicos todos, eram todos Diretório Setorial, entendeu, só tinham quatro diretórios, o de ensinos fundamentais que era no ICHL, o outro que era na faculdade de direito que juntava o direito, economia, pedagogia, juntava tudo num diretório só. O da saúde juntava medicina, odontologia e bioquímica; e ciências exatas que era matemática, engenharia civil. Aí quando eu assumi, voltaram com os diretórios acadêmicos. Então fundamos alguns diretórios: educação física, ciências biológicas, jornalismo. (...) Assim, o principal foi quebrar os Diretórios Setoriais, voltar com os Diretórios Acadêmicos todos, botar a gráfica pra funcionar, porque você com a gráfica na mão, papel a vontade porque papel era barato, cada DA com autonomia, escrevendo o que quisesse. (Ivan Barbosa, entrevista).

Reginaldo Arcuri, líder estudantil que sucedeu Ivan na direção do DCE, afirma que a criação dos Diretórios Setoriais ocorreu na gestão anterior a de Ivan Barbosa e que possuía um objetivo específico. Zé Toninho, na intenção de conseguir mais verbas da reitoria, transformou os DA’s em DS’s, cedendo a uma exigência do decreto 228[1]. No entanto, foi por causa desta mudança que o DCE conseguiu adquirir a impressora off set para a gráfica.
A criação dos Diretórios Setoriais, indicada no decreto 228, buscava acabar com as formas de representação estudantil, visando minar o envolvimento e a aproximação dos estudantes com organizações de representação de cunho político na universidade. Em Juiz de Fora não foi diferente; reduzidos números e agrupados por área, envolvendo um número maior de estudantes, os DS’s os afastavam de sua representação.
A fundação dos Diretórios Acadêmicos na gestão de 1974/1975 começou a ventilar o Movimento Estudantil em Juiz de Fora, ampliando o espaço de participação dos estudantes e criando representações por cursos. Além disso, na memória de Reginaldo Arcuri, Ivan Barbosa sempre buscava algum ponto para manter a luta contra a ditadura através das ações do DCE da UFJF. “Era muito engraçado que o Ivan de vez em quando virava e falava ‘tá tudo muito calmo, esse negócio não tá certo. Vamos criar uma crise!’ Aí inventava alguma coisa, mas sempre nessa coisa de manter a tensão com a reitoria obviamente e com o conjunto das outras representações, digamos, da ditadura”.
Em 1974, percebe-se um ressurgir das ações culturais, também iniciadas pelo Movimento Estudantil e que marcaram o processo cultural da cidade de Juiz de Fora, bem como a reorganização política e mais expressiva desse movimento. Ivan Barbosa, no referido ano como presidente do DCE, buscando democratizar a universidade e a sociedade, investiu em ações culturais e lançou o Som Aberto, que para os estudantes representava uma forma de resistência, já que acreditavam que promover cultura era lutar por democracia. O Som Aberto reunia, aos sábados, um grande público estudantil na universidade, onde eram apresentadas poesias, teatros, música, dança, entre outros, pelos próprios estudantes que se lançavam num grande movimento pela cultura. O Som Aberto também foi palco de apresentações de artistas de expressão nacional, que se apresentavam no Central na cidade e depois, gratuitamente no Som Aberto, no Anfiteatro do ICBG. Em suas apresentações havia a preocupação de apresentar atividades culturais de qualidade, ao passo que utilizavam estes espaços para a divulgação de ideias políticas.
Ivan Barbosa foi o primeiro a abrir as portas para a inserção partidária dos estudantes na política local em 1976. Reginaldo Arcuri, que foi sucessor de Ivan na direção do DCE, destacava ao falar da campanha de Ivan, o slogan da campanha que o elegeu como vereador.

E nós estávamos muito focados era em gerar resultados, em conseguir avançar com essas coisas que favorecessem o final da ditadura, esse era o foco central. Tanto que foi um período que eu estava como presidente que a gente decidiu que o Ivan ia se filiar ao MDB para depois concorrer a vereador. Tanto que foi a única candidatura de esquerda unitária, na história de Juiz de Fora foi essa. E ele foi eleito o vereador mais votado, foi uma campanha genial. A gente fez um slogan, que a gente usou do irmão do Tarso Genro em Porto Alegre, que era “vote contra o governo”. E tudo nessa linha, que eu acho que nos distinguiu, e eu falo sempre no plural porque nessa época nós éramos um grupo, ninguém tinha carreira pessoal. (Reginaldo Arcuri).

A campanha para a eleição de Ivan Barbosa como vereador aglutinou muitos militante estudantis de grupos diferentes. Em sua memória eram destacados os receios, na época, de lançar sua candidatura e ser acusado de usar o Movimento estudantil para projeção pessoal, no entanto, sua candidatura como vereador foi vitoriosa. Porém, o MDB sofreu derrotas na prefeitura e conquistou poucas cadeiras na câmara municipal, o que dificultou sua atuação política.

Sai ou não sai candidato? Vai falar que está usando o movimento estudantil, não sei o que, aí o pessoal achou que valia a pena, e eu entrei pra vereador, em 1976, aí depois todo mundo entrou a política partidária. Aí veio essa turma toda, Reginaldo, Pestana, aí depois todo mundo entrou, Ignacio foi candidato a vereador, Paulinho virou deputado federal, todo mundo entrou e nós perdemos a eleição de 1976, eu ganhei pra vereador, mas o Tarcisio perdeu pra prefeito pro Melo Reis, aí eu fiquei isolado na Câmara (...), todo mundo batendo, eu tinha 26 anos, a campanha foi “vote contra o governo” então essa foi pesada porque aí o negocio foi ficando sério, eu já estava disputando pra vereador não era negocio de estudante. E esse panfleto não deixaram rodar em juiz de fora, tive que rodar em São João Nepomuceno, numa tipografia porque a gráfica todas recusaram. Quem redigiu, a maior parte é do Paulinho, na hora que você ver vai falar “é a mesma coisa”, trinta e tantos anos depois e continua a mesma coisa, precisa ter divisão de renda, desemprego, aquela coisa, agora o que chamava a atenção era o slogan “vote contra o governo”, ninguém podia ser contra o governo naquela época (...) o pessoal saía todo mundo escondido, saía, vai no ponto de ônibus numa hora determinada e tatatatata e na hora que nego chega já era já tinha distribuído e todo mundo guardava ninguém jogava fora e isso aí deu um retorno fantástico. (Ivan Barbosa, entrevista).

A campanha de Ivan Barbosa demonstrava uma forma de resistência ao regime, posicionando-se claramente contra o governo. Os atos de divulgação da campanha eram escondidos devido à censura. Destarte, sua campanha foi vitoriosa, e Ivan se tornou o vereador mais votado de Juiz de Fora até 1976.

Materias sobre a morte de Ivan:


[1]A LEI nº. 4464, de 9 de novembro de 1964, conhecida como Lei Suplicy, objetivou o fechamento das entidades estudantis. Foram criados o Diretório Nacional de Estudantes (DNE) e os Diretórios Estaduais de Estudantes (DEE’s), substituindo a UNE (União Nacional dos Estudantes) e as UEE’s (União Estadual dos Estudantes). Em meio aos protestos contra esta lei o governo lançou o Decreto Lei nº. 228 em 1967 que extinguia o DNE e os DEE’s, deixando os estudantes sem nenhuma entidade representativa legal.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Agora também pela net!

A livraria Leonardo da Vinci também está fazendo a venda do Livro Memórias de Esquerda pela internet. Acesse o site da livraria e veja como é facil e rapido comprar o seu!
http://www.leonardodavinci.com.br/index.asp

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Memórias de Esquerda no Rio de Janeiro


O Livro Memórias de Esquerda agora também está sendo vendido no Rio de Janeiro - RJ!!
Localizada bem no centro da cidade, a livraria Leonardo da Vinci, uma livraria com mais de 50 anos de história e de referência para estudiosos de todas as areas, agora também conta entre seus exemplares com o livro Memórias de Esquerda: o Movimento Estudantil em Juiz de Fora de 1974 a 1985, de Gislene Lacerda.
O valor é de apenas R$ 20,00.
Acesse: http://www.leonardodavinci.com.br/

O endereço da Leonardo da Vinci é Av Rio Branco, nº 185 - Ed. Marquês do Herval - Subsolo - Lojas 2,3,4 e 9 Centro - Rio de Janeiro.

Adquira já o seu!

domingo, 24 de julho de 2011

Resenha do historiador Zózimo Trabuco sobre o livro Memórias de Esquerda

Texto - resenha do historiador, doutorando em História Social da UFRJ, Zózimo Trabuco, sobre o livro Memórias de Esquerda.


Para quem, na trajetória acadêmica, participou em algum momento do movimento estudantil fica difícil comentar um livro sobre memórias desse movimento apenas do ponto de vista acadêmico. Por isso, ler o livro Memórias de Esquerda: o movimento estudantil em Juiz de Fora da historiadora Gislene Lacerda, minha colega de doutorado, foi também um processo afetivo, de em contato com as memórias dos atores por ela entrevistados relembrar minha própria experiência no movimento estudantil quase sempre fazendo analogias e comparações entre as experiências lidas e vividas. Meus breves comentários sobre o livro vão transitar por essas duas abordagens, acadêmica e afetiva, em dois texto diferentes, sendo este o primeiro.
O livro é fruto da dissertação de mestrado em história da autora na UFJF, o que significa ter muito pouco tempo para pesquisar e escrever sobre o objeto da pesquisa – apenas dois anos – o que quase sempre resulta no encaminhamento do pesquisador para um aprofundamento do objeto no doutorado; mais quatro anos. Essa escassez de tempo de pesquisa e escrita no mestrado foi bem resolvida no livro a partir de uma seleção de entrevistados e de temas perguntados aos depoentes, quantitativa e qualitativamente pertinentes. E também de uma preocupação historiográfica fundamental: entender como se construiu a memória do e/ou sobre o movimento estudantil durante a distensão da ditadura militar (1974-1984). Neste ponto, há uma correspondência entre a representação que os depoentes fazem de sua geração no movimento estudantil em comparação com a geração de 1968, e as conclusões da autora sobre o papel desempenhado pelo movimento no processo de abertura política: a geração pós-1974 foi um importante agente na redemocratização da sociedade brasileira conquistando, ao contrário da geração de 1968, seus objetivos mais diretos.
Falando mais especificamente sobre os temas tratados no livro, o significado de ser esquerda enquanto participante do movimento estudantil possuía continuidades e descontinuidades em relação aos grupos da esquerda partidária. Pensando o movimento estudantil como um movimento social inserido no espaço universitário, Gislene Lacerda mostrou que em Juiz de Fora, ser de esquerda apresentava uma identidade quando da presença de grupos de direita ou a ela associados na direção das entidades do movimento estudantil, e outras identidades quando da alternância entre grupos de esquerda ou a ela associados na direção dessas entidades. As pautas e as filiações políticas que significavam o posicionamento de esquerda mudavam de acordos com as disputas políticas entre as tendências. Esses conflitos aparecem nos depoimentos, e aqui há outra característica do livro que talvez se configure um novo desafio para a autora no doutorado. O quanto ela irá valorizar a memória em disputa do movimento estudantil, ou o quanto vai valorizar a história do movimento a partir da história oral. São aspectos que não se separam, mas que a depender das opções pode tornar um deles mais evidente que o outro no trabalho final.
Com mais tempo para pesquisar no doutorado e sob orientação da historiadora Maria Paula de Araújo - autora de Memórias Estudantis e A Utopia Fragmentada, especialista sobre esquerdas e suas memórias pós-1968 – essa correspondência entre memória dos depoentes e interpretação acadêmica pode vir a ser relativizada ou reforçada, mas é um aspecto que revela um desafio enfrentado por Gislene Lacerda, e que em geral é o desafio dos historiadores do tempo presente ou da história recente: a proximidade das referências de pensamento e prática dos sujeitos pesquisados e de seus pesquisadores. Como todo desafio, essa proximidade apresenta dificuldades e estímulos, e um deles é a compreensão de como se formaram as referências de pensamento e prática que nos parecem tão próprias do nosso tempo, como elas não são, mas vieram a ser ou nos chegaram por vias diversas e conflitantes.
Obrigada Zózimo!!

terça-feira, 5 de julho de 2011

Comemorando 1000 acessos!!!

Com muita alegria comemoro neste post a marca de mais de 1000 acessos ao blog Memórias de Esquerda.
Agradeço aos amigos, colegas historiadores, colegas de trabalho, alunos e demais pessoas que visitaram este espaço. 
Continuem acessando! Estarei sempre colocando novidades relacionadas ao livro e à historia do Movimento Estudantil em Juiz de Fora!
Divulguem o blog e o livro Memórias de Esquerda!

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Participação no Programa Culto Circuito


Estive hoje no estudio da FACOM - UFJF gravando o programa Culto Circuito. Fui entrevistada pelo João Paulo Soldati e pude falar um pouco sobre o meu livro Memórias de Esquerda: o Movimento Estudantil em Juiz de Fora de 1974 a 1985 e também me enveredei a comentar um pouco sobre o movimento estudantil atual.
O programa foi otimo e fiquei muito feliz em participar. Agradeço a todos da equipe e em especial ao professor Eduardo Leão pelo convite!
Assim que tiver a data de exibição coloco aqui no blog!
O programa vai ao ar toda terça-feira, as 22 hs, na TVE JF. Vale a pena conferir!
Parabéns à toda equipe!
Para os interessados o Programa tem Twitter e facebook:
@CultoCircuito_

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Culto Circuito


Nesta sexta-feira, dia 01/07, pela manhã, estarei gravando o programa de TV da FACOM UFJF chamado "Culto Circuito". A entrevista será sobre o conteudo do livro Memórias de Esquerda: o Movimento Estudantil em Juiz de Fora de 1974  a 1985.

Agradeço  convite da equipe do Programa Culto Circuito!

Fiquem atentos, vou postando novidades!

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Prefácio do livro Memórias de Esquerda na integra - por Valéria Lobo

Apresento neste post, na integra, o Prefácio do Livro Memórias de Esquerda: o Movimento Estudantil em Juiz de Fora de 1974 a 1985, de autoria da profª Drª Valéria Marques Lobo.
A historiografia brasileira tem se ressentido da escassez de publicações relacionadas aos períodos mais recentes de nossa história. Seja pelo temor de não lograr o adequado distanciamento em relação ao objeto, seja pela dificuldade de encontrar fontes criteriosamente organizadas, os historiadores têm privilegiado o estudo de tempos mais remotos e deixado quase exclusivamente a cargo dos sociólogos, cientistas políticos e economistas a prerrogativa de desvendar nossa história recente. Além das dificuldades apontadas, ao se debruçar sobre a história de um período recente, o historiador do tempo presente se expõe não apenas à crítica de seus pares nos meios acadêmicos, tal como os demais, mas se submete mesmo ao escrutínio dos sujeitos da história, elevando-se assim os custos e os riscos da empreitada.
Gislene Lacerda aceitou os riscos e encarou corajosamente os desafios de escrever sobre a experiência de pessoas que povoaram a história que relata e que continuam aí, dando sequência às suas próprias histórias. E o fez com propriedade, apoiando-se inclusive nas memórias dos sujeitos dessa história.
O estudo que agora vem a público na forma deste livro tem o mérito de trazer à luz parte da história de um período ainda pouco perscrutado pelos historiadores, o que já seria suficiente para valorizar o empenho da autora. Com efeito, ao abordar o movimento estudantil em Juiz de Fora entre 1974 e 1984, o livro contribui para suprir três lacunas deixadas pela historiografia. A história do movimento estudantil, a intervenção da sociedade brasileira no processo de distensão do regime militar e a história de Juiz de Fora nas ultimas décadas do século passado.
No entanto, a obra que o leitor tem em mão merece ser valorizada para além dessas dimensões. O empenho em levantar e sistematizar fontes escritas, boa parte delas dispersas por arquivos pessoais; o rigor no emprego da metodologia da História Oral, ainda carente de balizas consensuais; o cuidado ao mobilizar os conceitos empregados; o distanciamento crítico estabelecido em relação ao objeto resultaram num trabalho primoroso de recuperação da trajetória do movimento estudantil em Juiz de Fora durante o período de declínio do ultimo ciclo autoritário brasileiro. Nesse sentido, a obra vem somar-se aos poucos estudos sobre a participação dos estudantes no processo de redemocratização do país.
Não se trata, todavia, apenas de uma narrativa acerca da ação dos estudantes de Juiz de Fora no período situado entre os governos do Gal. Geisel e a Campanha das Diretas. Ao se debruçar sobre a trajetória desses estudantes, a autora buscou compreender em que medida a militância estudantil da cidade se inseria num processo mais amplo e quais eram as suas peculiaridades, dialogando com as poucas obras referentes ao movimento estudantil do período abordado. Ao contrastar o conteúdo dos trabalhos referentes ao movimento estudantil do período anterior com suas fontes,  a autora buscou identificar, além dos traços de continuidade que ligam a ação estudantil do ocaso do regime militar com a Geração de 68, as rupturas e mudanças que o seu sujeito experimentou. Mais do que isso, Gislene procurou, ainda, situar as diversas correntes do movimento estudantil de Juiz de Fora no espectro das esquerdas brasileiras, a fim de compreender as convergências e as disputas que se verificam no período analisado. Por fim, buscou de forma bastante original estabelecer os nexos entre as manifestações culturais e políticas que faziam parte do universo estudantil no ocaso do regime militar. O que se verifica é, pois, uma composição primorosa do objeto de estudo.   
Ao contrastar o movimento estudantil do final dos anos 70, vitorioso na acepção da autora, com o movimento empreendido pelos estudantes que militaram no período mais duro do regime militar, Gislene observa que, não apenas por terem atuado numa conjuntura mais favorável, mas também porque souberam tirar proveito do legado da geração anterior, elegendo uma tática de atrair as suas bases para a luta não violenta pelas liberdades democráticas, as lideranças estudantis que atuaram nos últimos anos do regime militar lograram sucesso. A mobilização dessa vanguarda estudantil alimentou o processo de abertura política, ainda que as divergências internas, acentuadas a partir da reconstrução da UNE, em 1979, tenham contribuído para o deslocamento dos estudantes do protagonismo na cena nacional, obstando, inclusive, a conquista de certos benefícios especificamente relacionados aos interesses dos estudantes. Nesse caso, Gislene salienta que se até 1979 o tema central que mobilizava os estudantes era a luta pelas liberdades democráticas, a partir daí as questões mais específicas, relacionadas sobretudo ao transporte e alimentação estudantis, ganharam destaque na agenda dos estudantes de Juiz de Fora
Quando situa os estudantes e as correntes estudantis de Juiz de Fora no espectro mais amplo das correntes de esquerda no plano nacional, a autora identifica a presença na cidade tanto de seções de tendências nacionais, como de grupos formados na cidade, que embora interagissem com correntes nacionais, não tinham uma ligação direta com elas, indicando certo grau de autonomia dos estudantes locais. 
Ao analisar as manifestações culturais empreendidas pelos estudantes, a autora destaca a presença de um elo entre política e cultura, ressaltando que o empenho em organizar atos culturais era caudatário da percepção desenvolvida pelos estudantes do período de transição política de que isso era uma estratégia eficaz de mobilização. Com efeito, esses eventos culturais, em geral bem sucedidos, transformavam-se também em palanque político, facilitando a aproximação entre lideranças estudantis e suas bases. Nessa medida, a cultura servia à política, favorecendo a mobilização em prol das liberdades democráticas e, or conseguinte, a abertura do regime.
Essas são algumas das questões trabalhadas de forma cuidadosa e criativa por Gislene. Por tudo isso esse livro vem preencher de forma muito pertinente uma importante lacuna não apenas nos estudos regionais, mas também na historiografia nacional, o que faz da obra leitura obrigatória para todos aqueles que se interessam pela história recente da sociedade brasileira.
Profª Drª Valéria Marques Lobo
Professora adjunta da Universidade Federal de Juiz de Fora

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Livro Memórias de Esquerda nas melhores livrarias em Juiz de Fora e Ubá

O livro Memórias de Esquerda: o movimento estudantil em Juiz de Fora de 1974 a 1985,    da editora FUNALFA, lançado no dia 28/05/2011 durante o Corredor Cultural, já está presente nas melhores livrarias da cidade! 

Em especial, a partir de hoje, também a Livraria A Terceira Margem fará a revenda do mesmo.

A Livraria fica localizada no centro de Juiz de Fora, à rua Halfeld, Galeria Pio X, 2º piso, loja 127.

Assim você pode encontrar o livro:


Em Juiz de Fora - MG:


Livraria Liberdade, na Rua Santa Rita, 545, centro
Planet Music, Av. Independência, 1522, centro
Livraria Terceira Margem, Galeria Pio X, 2º piso, loja 127, centro
Livraria Vozes, Rua Espirito Santo, 963, centro


Em Ubá - MG:


Livraria Esposito, rua Duque de Caxias, 125, centro.

O valor do mesmo é apenas R$20,00.

Caso não tenha acesso à estas livrarias, basta enviar email para memoriasdeesquerda@gmail.com e pedir o seu e enviamos em sua casa.

sábado, 4 de junho de 2011

Blog Memórias de Esquerda - 800 acessos

Prezados leitores,


É com muita alegria que comemoro que ultrapassamos a marca de 800 acessos neste blog!

Isto se torna motivo de grande alegria para mim em saber que estão prestigiando os textos postados neste blog e o livro Memórias de Esquerda.

Contamos com sua divulgação deste blog e do livro Memórias de Esquerda!
Tributo aos meus amigos



Forte abraço! Obrigada!




sexta-feira, 3 de junho de 2011

Comentários dos leitores!

Amig@s leitores,

Gostaria de ler a opinião de vocês sobre o livro Memórias de Esquerda.
Envie-nos seu comentário sobre o conteudo, diagramação, capa, etc!
Você pode enviar para o memoriasdeesquerda@gmail.com , para o twitter @Gis_Lacerda ou mesmo através de comentário neste blog!

Lembro que a obra já está a venda nas livrarias Liberdade e Planet Music  em Juiz de Fora!





quarta-feira, 1 de junho de 2011

Memórias de Esquerda - por Raquel Barroso

Na História do Brasil, durante o período da ditadura militar, Juiz de Fora está marcada como a cidade de onde partiram as tropas do General Olimpio Mourão Filho que derrubou o governo dando início ao regime em  1964. “Memórias de Esquerda” vem nos mostrar que nossa cidade pode ser lembrada por muito mais que isso. Também tivemos participação na resistência, na luta pela liberdade e na efervescência cultural do período.

Além deste mérito o livro nos contempla com uma história viva, que cruza conosco nos corredores da Universidade, nos eventos da  cidade, nos representa como políticos eleitos democraticamente, escreve nos jornais que lemos. 

Obs: Se você também tiver algum comentário sobre o livro, pode envia-lo para memoriasdeesquerda@gmail.com que vicularemos no blog. Será uma grande alegria receber os comentários dos amigos leitores.

Raquel Barroso Silva
Doutoranda do Programa de Pós Graduação em História da Universidade Federal de Juiz de Fora

Obs:

terça-feira, 31 de maio de 2011

O que faz uma cidade? - Por Rita Almeida


Juiz de Fora completa hoje 161 anos de história. Nas escolas, salvo alguns raros casos, é comum que se façam trabalhos com o tema, colocando em evidência o brasão, o hino, e tantos outros símbolos oficiais da cidade, que aparecem apenas em 31 de maio e depois desaparecem no decorrer do ano letivo. Contudo, vivemos e experimentamos a cidade de várias maneiras distintas: no caminho para o trabalho, no lazer, nas atividades cotidianas de consumo... Percebemos diferenças temporais nas edificações, percebemos diferenças sociais nas atividades de consumo, percebemos semelhanças nos momentos de lazer. E, nesses casos citados, muitas vezes estamos longe de brasões, hinos e efemérides urbanas.

Meu objetivo não é desconsiderar essa história “oficial”; apenas destacar que ela não é única, e que muitas outras emergem cotidianamente nos usos que se fazem do espaço urbano. Dessa maneira, a cidade é palco de transformações sociais e políticas, e traz consigo todas essas marcas, deixadas por citadinos de épocas distintas. Histórias estas que se sobrepõem e que tecem o emaranhado constitutivo da “história” - no singular – da cidade. Portanto, a história de uma cidade é formada por vários fios diferentes e, dentre eles, aparecem também os fios de brasões, hinos e bandeiras.

Para o professor português João Bonifácio Serra*, “a memória de uma cidade não pode viver do efémero comemoracionista ou do album de fotografias. A memória de uma cidade é um contínuo de gerações, em que cada uma herda e acrescenta à herança o seu próprio sonho, o seu próprio desejo de futuro.” Dentre as diversas gerações que fizeram e fazem parte da história de Juiz de Fora, Ivan Barbosa, Reginaldo Arcuri, Ignacio Delgado, Jorge Sanglard, Beatriz Domingues, Flávio Bitarelo, Flávio Cheker, Marco Aurelio Crocco, José Pimenta, Rafael Pimenta e Marcus Pestana são alguns nomes de militantes de diferentes ideologias de Esquerda que, entre as décadas de 1970 e 1980, imprimiram suas marcas na cidade de Juiz de Fora, através do movimento estudantil, com seus sonhos e desejos de futuro. São esses personagens, sujeitos ativos da história, que tecem junto a tantos outros citadinos, a história da cidade e se tornaram personagens do livro Memórias de Esquerda. Assim, é preciso se considerar a relevância de todas essas histórias e de todos esses fios de memória que se entrelaçam em 161 anos de história de Juiz de Fora.

E que as comemorações sejam feitas: com brasões, hinos, bandeiras, histórias e memórias cotidianas.

Por 
Rita de Cássia Mesquita de Almeida
Historiadora e Mestre em Educação pela UFJF

*SERRA, João B. Manifesto pela cidade imaginária. Disponível em: http://oqueeuandei.blogspot.com/2010/06/manifesto-pela-cidade-imaginaria.html . Acesso em 23 abr. 2011.

domingo, 29 de maio de 2011

Lançamento!

Agradeço muito aos amigos que puderam esta presente ontem no Lançamento do meu livro Memórias de Esquerda: o Movimento Estudantil em Juiz de Fora de 1974 a 1985.
Foi uma noite muito especial para mim! É meu primeiro livro! Fruto de dois anos de pesquisa durante o mestrado!
Ter a presença dos amigos de militância, dos amigos da História, dos alunos, da familia, dos professores, pesquisadores, dos meus entrevistados de pesquisa, dos amigos de trabalho, dos amigos de fé e de pessoas interessadas na história da nossa cidade e que lá pude conhecer, fez da noite ainda mais especial!
Agredeço à FUNALFA pela organização do Corredor Cultural e por me permitir fazer parte desta programação!
Agradeço à Denise e Fernanda, funcionarias da FUNALFA, por toda paciência, alegria e carinho comigo nesta trajetória desde a contemplação na Lei Murilo Mendes até a concretização do projeto neste lançamento!
É uma alegria poder contribuir um pouco com a história e a cultura de Juiz de Fora!
Juiz de Fora: Cidade pela qual me apaixonei e me considero filha!
Lucia, Raquel, Gislene, Cecilia e Fernanda



Meu entrevistado de pesquisa, uma das memórias deste livro: Ignacio Delgado; Valéria Lobo, orientadora e autora do prefácio; Claudia Viscardi, professora.



Valquíria, Linus, Gislene e Tânia


Família: Lacerda, Gislene, Maria José, José Augusto, Gisele e Lucas

Minha linda Maria Júlia e Thaís
Meu entrevistado de pesquisa, uma das memórias deste livro: Flávio Bitarelo

Meu entrevistado de pesquisa, uma das memórias deste livro: José Pimenta

Professora Vanda Arantes

Gislene, Rayla e Daniel

Franciane, Rita, Gislene e Aline

Gisele e José Augusto

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Livro Memórias de Esquerda na impressa de JF

Hoje está no site da UFJF uma matéria sobre o lançamento do livro Memórias de Esquerda, confiram:

http://www.ufjf.br/dircom/?p=44238

Além dele, a Rádio Catedral entrevistou esta autora na ultima quarta feira, no programa Gente Ativa.

http://radiocatedraljf.com.br/site/gente-ativa-juizforana-lanca-livro-sobre-a-ditadura-militar/

A Rádio da Universitária, da FACOM da UFJF também realizou uma matéria sobre o lançamento do livro. Disponibilizaremos aqui posteriormente o audio!

Agradecemos a divulgação feita por estas organizações!

Aguardo a todos no lançamento! É amanhã, as 20 hs, na Biblioteca Municipal!!!!

terça-feira, 24 de maio de 2011

Como adquirir um livro Memórias de Esquerda?


Se você ao visitar este blog se interessou em conhecer melhor a obra e poder lê-la na integra, basta ficar atento às orientações abaixo.

1. Se você é de Juiz de Fora:
  • Você pode comparecer o lançamento no dia 28/05, as 20 hs, na biblioteca Municipal Murilo Mendes;
  • Você pode, a partir do dia 28/05, comparecer à Planet Music, na Av Independência, nº 1522 , centro, JF, e adiquirir seu livro na loja;
  • Você pode enviar email para o endereço memoriasdeesquerda@gmail.com e solicitar informações adicionais e verificar outras possibilidades de entrega.
2. Se você não é de Juiz de Fora / MG

É simples, você deve enviar um email para memoriasdeesquerda@gmail.com . Em seguida você receberá uma resposta automática com todos os passos para pagamento e envio do livro. Em poucos dias o livro estará em suas mãos.

Em breve o livro estará em outras livrarias da cidade e da região.

Será uma alegria tê-lo como leitor!

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Memórias de Esquerda no corredor cultural

A programação completa do Corredor Cultural da FUNALFA acaba de ser divulgada oficialmente!
O lançamento do livro Memórias de Esquerda está na programação!
Dia 28/05, lançamento de 8 livros financiados pela Lei Murilo Mendes em JF farão parte deste momento importante para a cultura de nossa cidade.


Confira a programação completa no link:

http://www.pjf.mg.gov.br/funalfa/corredor_cultural/programa2011.pdf


Parabéns à FUNALFA pela organização deste evento!

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Lançamento do livro Memórias de Esquerda.

Com muita satisfação divulgo o convite o Lançamento do meu livro: Memórias de Esquerda: o Movimento Estudantil em Juiz de Fora de 1974 a 1985 que acontecerá no dia 28/05, sábado, às 20 hs até as 21 hs, na Biblioteca Municipal Murilo Mendes, em Juiz de Fora.
O Lançamento faz parte da programação do Corredor Cultural 2011, organizado pela FUNALFA.



quarta-feira, 11 de maio de 2011

Tecendo histórias, tecendo memórias...

Conforme prometido, apresentarei neste post as memórias que nortearam este trabalho.

            A memória tem configurado uma verdadeira explosão no mundo contemporâneo, indicando para uma “cultura de memória” que, segundo Elizabeth Zelin coexiste e se reforça com a valorização do efêmero, o ritmo rápido, a fragilidade e a transitoriedade dos feitos da vida. A memória possui um papel significativo de fortalecimento da identidade de grupos e comunidades. Devido a isso, a memória tem sido objeto de muitos debates e originado muitos trabalhos nas ciências humanas. Responsável por abrir ao pesquisador possibilidades de análises novas, a memória apresenta características peculiares e que merecem reflexões cuidadosas.

Na maior parte das vezes, lembrar não é reviver, mas refazer, reconstruir, repensar, com imagens e ideias de hoje as experiências do passado. (...) A lembrança é uma imagem construída pelos materiais que estão, agora, à nossa disposição, no conjunto de representações que povoam nossa consciência atual. Por mais nítida que nos pareça a lembrança de um fato antigo, ele não é a mesma imagem que experimentamos na infância, porque nós não somos os mesmos de então e porque nossa percepção alterou-se e, com ela, nossas idéias, nossos juízos de realidade e valor. O simples fato de lembrar o passado, no presente, exclui a identidade entre as imagens de um e do outro, e propõe a sua diferença em termos de ponto de vista. (BOSI: 1994, 55).

           Compreendo que, assim como afirma Bosi não é possível recuperar exatamente as impressões e os sentimentos experimentados à primeira vez, devido ao conjunto de nossas ideias atuais, principalmente sobre a sociedade, que influem no ato de narrar.  Bosi diz ainda que “a narração é uma forma artesanal de comunicação. Ela não visa transmitir o ‘em si’ do acontecido, ela o tece até atingir uma forma boa. Investe sobre o objeto e o transforma”. (BOSI, 1994: 88).
            Neste livro que agora apresento a vocês, a memória não buscou recuperar a totalidade dos fatos vividos neste contexto histórico, mas foi uma opção de analise, vista como fonte histórica que precisa ser problematizada para a partir delas, juntamente com outras fontes, tecer a história deste grupo. A memória traz uma série de novas questões que no livro também são abordadas como a disputa pela memória ao contrapormos a geração de 1968 com a geração da década de 1970, bem como os conflitos de memória e a compreensão não apenas da história em si, mas das intenções, dos sonhos dos sujeitos desta história. Compreendemos não apenas o que aconteceu mais aquilo que acreditavam ter construido, suas perspectivas e convicções.
       Entrevistei para a pesquisa que originou este livro, 11 pessoas que tiveram sua vida marcada pela militancia estudantil e que se tornaram em sua maioria, pessoas publicas e envolvidas na politica atual. O primeiro capitulo do livro dedica-se em parte a apresentar de forma mais detalhada cada uma destas pessoas, suas origens, seus ideais, as tendências às quais foram vinculadas, bem como suas motivações ao ingressarem no Movimento Estudantil e sua trajetória posterior.

São eles:

  • Ivan Barbosa, foi presidente do DCE na gestão de 1974-1985, pertencia a um grupo conhecido genericamente como marxistas. Foi vereador em Juiz de Fora na década de 1970, atualmente militante de PSDB.
  • Reginaldo Arcuri, foi presidente do DCE na gestão de 1975-1976, também pertencente ao grupo Maxista. É professor do Departamento de História da UFJF e foi presidente da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial).
  • José Pimenta, foi presidente do DCE na gestão de 1977 - 1978 e era vinculado na política estudantil ao grupo “Ação e Unidade”, de orientação próxima à AP, e posteriormente ao MR-8, hoje empresário e atuante politicamente em ONGs; 
  • Ignacio Delgado, foi membro do DA do ICHL em 1977 e concorreu em chapas para o DCE da UFJF em 1978. Pertencia à tendência denominada Estratégia, de orientação trotskisa. Atualmente é professor do Departamento de História da UFJF e militante do PT. 
  • Jorge Sanglard, foi membro da tendência Estratégia e foi membro do DA de comunicação e diretor de cultura do DCE. Atualmente atua como jornalista, tem sua vida marcada pelo movimento cultural desde sua entrada na Universidade em 1976.
  • Beatriz Domingues, tinha sua vinculação na política estudantil através da tendência Liberdade e Luta, a LIBELU. Foi membro do DA do ICHL e chegou a disputar o cargo de presidente do DCE em vários anos no final da década de 1970. Atualmente é professora do Departamento de História. 
  • Flávio Bitarelo, foi membro do DA do ICHL e concorreu em chapas para a direção do DCE, não chegando, contudo, a ocupar cargos na entidade. Pertencia à tendência LIBELU. Hoje Flávio Bitarello é professor e participa do Movimento Sindical, atuando como diretor do sindicato dos professores de Juiz de Fora, no qual mantém sua militância política.
  • Flávio Cheker, ex-militante da Estratégia, foi presidente do DCE da UFJF em 1979. Atualmente é vereador na cidade de Juiz de Fora pelo Partido dos Trabalhadores. 
  • Marco Aurelio Crocco pertencia à tendência Estratégia. Em 1982, foi eleito presidente do DCE da UFJF. Atualmente é professor da Faculdade de Economia da UFMG .
  • Rafael Pimenta era militante do MR-8, foi presidente do DA de Engenharia e, posteriormente, do DCE da UFJF, de maio de 1983 a setembro de 1984. Hoje advogado e militante do atual PCB.   
  • Marcus Pestana, foi presidente do DCE da UFJF de 1980 a 1982, na época inicialmente vinculado ao PC do B. Hoje economista e Deputado Federal eleito por Minas Gerais, ex-secretário de Saúde do Governo de Minas Gerais, membro do PSDB. 
Cada um deles constituiu-se um dos fios de memória que me ajudaram a tecer esta história narrada no livro Memórias de Esquerda.

Agradeço a cada um de vocês, meus entrevistados, por dividirem um pouco de si para esta pesquisa ao partilharem sua memória, sonhos, ideais, perspectivas, entre tantas outras coisas.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Fios de memória

Manifestação de rua do Movimento Estudantil
Juiz de Fora
Tribuna de Minas - 1982
Arquivo DCE - UFJF
A história que apresento neste livro é tecida a partir de vários fios: documentos escritos, jornais, fotografias e memórias. Assim gostaria de apresentar neste post os fios de memória que nortearam este trabalho. Cada entrevistado torna-se, nesta pesquisa, um fio de memória e parte essencial para o trabalho de tecer histórias e memórias.

Assim, selecionei para este trabalho, ex-universitários que tiveram participação no movimento estudantil na cidade de Juiz de Fora/MG, no período de 1974 a 1985. Busquei que as três tendências estudantis de esquerda atuantes no período estivessem presentes (Estratégia, LIBELU e Ação e Unidade que congreva varios grupos), assim como expoentes dos dez anos em que esta pesquisa está inserida fossem representados. Dessa forma, atendendo a estes quesitos, selecionamos os sujeitos que desempenharam uma atuação mais expressiva dentro de suas tendências e dentro do ME como um todo, mesmo que estes não tenham chegado à diretoria do DCE.

Assim, os fios de memória são sujeitos que foram selecionados com o objetivo de contemplar os quesitos supracitados. Foram realizadas onze entrevistas para esta pesquisa, abrangendo os dez anos pesquisados. Contudo, muitos militantes foram contemporâneos no ME, o que nos permite confrontar as memórias ao construir esta história. A agulha que tece os fios de memória que a constrói é o trabalho de historiador, que me permite buscar, nestes fragmentos de memória, elementos essenciais para esta pesquisa.

É fato que muitos outros fios fazem parte de todo este processo e poderiam contribuir para este tecer de uma forma ainda mais completa. No entanto, a seleção foi inevitável, devido aos limites da pesquisa. Sinalizo que muito ainda se poderá fazer com estes fios que usei, além do emprego de novos fios, para compor esta história do Movimento Estudantil juizforano.

No próximo post deste blog apresento quem são estes meus entrevistados!!! Confiram!!!